Concordo com o que dizes sobre a possível instrumentalização dos artistas, mas acho que o que se passou este ano teve vários elementos diferenciadores e preocupantes. O acesso limitado, a ausência de referências à revolução, a encenação para as televisões, o contexto de pré-campanha e o abismo que existe, em popularidade, entre o Tony Carreira e o grupo de Pauliteiros e o de Cante Alentejano, que faz com que passe a ideia de que estavam lá para dar uma ideia de portugalidade datada e obsoleta. Entretenimento é uma coisa substancialmente diferente de cultura.
Sim, são diferenças estéticas mas na essência política é o mesmo. Os governos usam os artistas para explorar a sua visibilidade e simbolismo - no caso do Dino ou da Nenny, por exemplo, uma nova "portugalidade" e um "elevador social" que as políticas públicas pouco defenderam. Nem sei se chega a ser entretenimento.
Não são só diferenças estéticas, e a diferença política é gigante.
No que toca à programação cultural, a curadoria é muito importante porque revela qual ou quais os objetivos da mesma. E, sim, no caso da Nenny e do Dino, podes argumentar que a política foi ineficaz, mas a curadoria mostra que essas eram prioridades estratégias, ou, seguindo uma visão utilitarista ou demagógica, que o governo queria sinalizar que essas eram prioridades. E estavam enquadradas dentro duma programação maior e que não se limitava à música. O ângulo pode ser este: "nos quase 50 anos de 25 de abril, ainda há muito por fazer na integração e na mobilidade social". Podes discutir isso mesmo.
Neste caso, do Tony, e por muitos cravos que aquelas pessoas tenham nas mãos, não há qualquer relação entre as escolhas artísticas e o próprio objecto da celebração. Ou é uma curadoria falhada, ou, no caso de ser acertada, revela que o 25 de abril, para o governo, é apenas entretenimento. E, nesse caso, estão a retirar do espaço público um momento importante de discussão.
Gostava de ter essa visão benigna. Não tenho. No que vez prioridade estratégica, eu vejo mascarar a realidade. Posso dar outro exemplo flagrante disso mesmo. A plataforma Lisboa Criola, apoiada pelo mesmo Fernando Medina, que fechou aos olhos à gentrificação que expulsou da cidade e foi empurrando até das periferias as pessoas a quem supostamente ia dar fala. Paradoxal, não é? Pior do que isso, a troca de ideias que estamos a manter aqui está entrevada entre as côdeas servidas pelo poder e a obsessão pela representação. Como se estivessemos castrados a um maniqueísmo de branco e preto, e não pudessemos questionar tudo o que não há no meio - a falta de um objecto político que forme matéria a partir da intenção e perdure como rocha.
Não tenho uma visão benigna, nem vejo necessariamente prioridade estratégica. Eu disse que podes até entender que é apenas a sinalização duma prioridade estratégica. Vejo comunicação. E quando programas o Tony Carreira no 25 de abril, não escondes ao que vais. O exemplo que estás a dar não contraria o que estou a dizer. É aqui nem sequer sinalizas essa tal representatividade. Esperas que o resultado seja melhor?
Concordo com o que dizes sobre a possível instrumentalização dos artistas, mas acho que o que se passou este ano teve vários elementos diferenciadores e preocupantes. O acesso limitado, a ausência de referências à revolução, a encenação para as televisões, o contexto de pré-campanha e o abismo que existe, em popularidade, entre o Tony Carreira e o grupo de Pauliteiros e o de Cante Alentejano, que faz com que passe a ideia de que estavam lá para dar uma ideia de portugalidade datada e obsoleta. Entretenimento é uma coisa substancialmente diferente de cultura.
Sim, são diferenças estéticas mas na essência política é o mesmo. Os governos usam os artistas para explorar a sua visibilidade e simbolismo - no caso do Dino ou da Nenny, por exemplo, uma nova "portugalidade" e um "elevador social" que as políticas públicas pouco defenderam. Nem sei se chega a ser entretenimento.
Não são só diferenças estéticas, e a diferença política é gigante.
No que toca à programação cultural, a curadoria é muito importante porque revela qual ou quais os objetivos da mesma. E, sim, no caso da Nenny e do Dino, podes argumentar que a política foi ineficaz, mas a curadoria mostra que essas eram prioridades estratégias, ou, seguindo uma visão utilitarista ou demagógica, que o governo queria sinalizar que essas eram prioridades. E estavam enquadradas dentro duma programação maior e que não se limitava à música. O ângulo pode ser este: "nos quase 50 anos de 25 de abril, ainda há muito por fazer na integração e na mobilidade social". Podes discutir isso mesmo.
Neste caso, do Tony, e por muitos cravos que aquelas pessoas tenham nas mãos, não há qualquer relação entre as escolhas artísticas e o próprio objecto da celebração. Ou é uma curadoria falhada, ou, no caso de ser acertada, revela que o 25 de abril, para o governo, é apenas entretenimento. E, nesse caso, estão a retirar do espaço público um momento importante de discussão.
Gostava de ter essa visão benigna. Não tenho. No que vez prioridade estratégica, eu vejo mascarar a realidade. Posso dar outro exemplo flagrante disso mesmo. A plataforma Lisboa Criola, apoiada pelo mesmo Fernando Medina, que fechou aos olhos à gentrificação que expulsou da cidade e foi empurrando até das periferias as pessoas a quem supostamente ia dar fala. Paradoxal, não é? Pior do que isso, a troca de ideias que estamos a manter aqui está entrevada entre as côdeas servidas pelo poder e a obsessão pela representação. Como se estivessemos castrados a um maniqueísmo de branco e preto, e não pudessemos questionar tudo o que não há no meio - a falta de um objecto político que forme matéria a partir da intenção e perdure como rocha.
Não tenho uma visão benigna, nem vejo necessariamente prioridade estratégica. Eu disse que podes até entender que é apenas a sinalização duma prioridade estratégica. Vejo comunicação. E quando programas o Tony Carreira no 25 de abril, não escondes ao que vais. O exemplo que estás a dar não contraria o que estou a dizer. É aqui nem sequer sinalizas essa tal representatividade. Esperas que o resultado seja melhor?
De acordo, mas "comunicação" não é "programação cultural" nem "curadoria". Por acaso, eu acho que Tony Carreira é representatividade. De atraso.
A conversa que tivemos umas poucas vezes… não se aprendeu muito.