emmy Curl: "Queria dedicar um álbum a esta calma e necessidade de estar na natureza"
emmy Curl responde desde Vila Real onde se encontra com a família, entre concertos de apresentação de Pastoral, antes de regressar à Madeira onde reside. A serenidade da natureza atravessa o magnífico novo álbum. Para trás, há um longo percurso oficinal de avanços e recuos. O traje serrano de Trás-Os-Montes ultrapassa a distância e comunica com o manto azul da insularidade.
“Estou aqui para transmitir consciência colectiva na minha interpretação do que ela é em arte”, defende. Debaixo do chão que ela pisa, pela primeira vez há terra firme. Estas cançōes falam pela natureza humana de Catarina Miranda. Aprofundam a tradição pagã e reivindicam outros ritmos para o processo de modernização. Pastoral foi plantado em Vila Real mas o seu lugar é metafísico. E político?
No Apenas Miúdos, a Patti Smith diz que vive a vida a imitar a arte. Esses limites existem em ti?
Engraçado, porque tenho esse livro para ler. É fixe o que ela disse. Eu sou uma antena. Estou aqui para transmitir consciência colectiva na minha interpretação do que ela é em arte. Tenho uma ansiedade artística de estar sempre a transmutar. Por isso é que nunca páro quieta. Recebo muita informação e tenho que a largar em música, fotografia, arte…Sinto o que a Patti Smith diz, sim. A minha vida é imitar arte, ou seja é uma transmutação da consciência colectiva. Começaste esta conversa [antes de ligar o gravador] por dizer que o álbum fala de questōes importantes. Muita gente já pensou nelas antes. Os artistas vêm e transmitem isso à sua maneira.
A diferença está na forma como a mensagem é transmitida.
Precisamente, e depois cada pessoa é única. Depende do que viveu e sentiu.
O teu percurso já é extenso. Passaste por diferentes estados de emmy Curl. Trabalhaste com pessoas muito diversas e cada álbum parece transmitir um momento distinto na tua vida. O ØPorto foi um ensaio para o Pastoral?
Todos os álbuns são marcos históricos na minha carreira. Culminam com uma série de acontecimentos que depois são propostos como uma espécie de best of, ou então são criados para um propósito. São duas maneiras de fazer mas ambas vivem de momentos. Isto é um assunto profundo porque toca em várias feridas. Existe um olhar dúbio da indústria sobre mulheres a produzir, pelo menos sobre mim e sobre algumas amigas. Sempre senti que tinha que ter um produtor perto. Era muito raro sentir aprovação geral, até das próprias mulheres, para produzir as minhas coisas. Sempre produzi os meus discos, desde miúda. Quando comecei a ter mais pessoas para trabalhar, assinei com managers que me fizeram duvidar dessa mesma ferramenta. Não culpo ninguém mas aconteceu. Só nas últimas décadas é que a mulher é reconhecida pelo seu trabalho. O ØPorto foi um álbum que produzi todo sozinha. Não queria mais ter pessoas à volta a dizer-me o que fazer. Vou pegar nas minhas rédeas, compor, produzir e misturar. O ØPorto sai e a pandemia acontece. Nem sequer tive noção do impacto porque não houve (ri-se). Ninguém quis saber e eu percebo. A minha digressão foi cancelada, voltei para casa e tive o meu filho nessa altura. O álbum ficou esquecido. O Pastoral é uma continuação e um culminar desse mesmo trabalho.
O Pastoral pisa terrenos montanhosos. Fala de serra, campo e interior, relacionando-se com tempo, paz e reconexão com o planeta. Qual foi a geografia do processo?
Este álbum começou quando voltei para casa dos meus pais na pandemia. Nessa altura, estava a viver na Dinamarca. Tinha vindo de lá com seis meses de gravidez para fazer uma digressão. Escrevo a Mirandum em acto de revolta, a olhar para as paisagens de Vila Real, e no dia seguinte o meu filho nasce e o estado de emergência começa. Aí nasceu a ideia de fazer o álbum. O título Pastoral até surgiu logo. Queria dedicar um álbum a esta calma e necessidade de estar na natureza. Toda a gente com medo mas aqui na natureza está tudo calmo. Ela vive. Não há vírus. Pensava nas pessoas nas cidades, fechadas nos seus casulos, e achava que estava tudo ao contrário. Quis escrever sobre isso. Mirandum tem um lado crítico porque eu digo “a giesta cantava poemas sem ti”. A seguir, venho para a Madeira passar um ano. Era para ficar duas semanas e fiquei. Tinha vindo de um estado de emergência na Dinamarca. Era pleno inverno e estava muito frio. Tinha um filho e não podia sair à rua para sair com ele. Fiquei três meses em casa com ele. Fui para a Madeira porque tinha lá amigos e sabia que podia estar na rua. De duas semanas passou para três meses e aí decidimos [emmy Curl e o namorado] fazer um colectivo artístico. E aí continuei o Pastoral.
O álbum pertence a algum lugar?
Ele tem natureza. Nas imagens que tenho publicado, vou sempre buscar fundos da Madeira. O álbum é dedicado a Trás-os-Montes porque é onde ele nasce mas, na verdade, não interessa onde estou. Ele é da natureza. É bastante extenso na mensagem porque também fala sobre a música celta, do norte e do interior em Portugal, que ainda falta explorar apesar de já ter havido várias bandas a costurar muito bem essa essência. Quando falo em explorar, refiro-me também a exportação. As pessoas pensam que a música celta vem do norte da Bretanha quando ela vem do norte da Península Ibérica. Só mais tarde é que foi para a Irlanda. Ela vem daqui. É engraçado porque desde miúda me arrepiava toda a ouvir música celta mas depois pensava: “mas isto está com mau gosto. Está deturpado!”. Ao crescer em Vila Real, os bombos, as gaita de foles e as senhoras a cantar eram o meu dia-a-dia. Tinha um vizinho que treinava gaita de foles e tocava todos os domingos. Sempre me acompanhou. Este álbum explora muito isso. Fiz muita pesquisa. Podes encontrar o Vai de Roda, o Giacometti e a Gabrielle Roth que não tem nada a ver mas gosto muito da parte tribal dela. Todo o lado pagão da música. Sinto que a religião cristã apagou muita coisa importante como a adoração às estaçōes e os solestícios - toda essa harmonia com a natureza foi substituída por santos. É bom reencontrar essa ligação ancestral.
O álbum é dedicado a Trás-os-Montes porque é onde ele nasce mas, na verdade, não interessa onde estou. Ele é da natureza. É bastante extenso na mensagem porque também fala sobre a música celta, do norte e do interior em Portugal, que ainda falta explorar apesar de já ter havido várias bandas a costurar muito bem essa essência.
O lugar da natureza no Pastoral também é politico?
Nunca sei responder a essa pergunta porque mais que diga que não é político, tudo é político. Não há como escapar. Eu vivo muito alheada do mundo político. Tenho sempre que perguntar aos meus pais porque não consigo acompanhar o raciocínio dos políticos. Não me identifico com quase nada, nem teórica nem espiritualmente. Identifico-me com algumas pessoas mas não com partidos. Sou completamente contra a ideia de a democracia ter um herói. Acredito nas ideias. Quando me perguntam se a minha mensagem é política, no fundo há uma visão que é utópica. Sou completamente apaixonada pela teoria do Jacque Fresco. Ele foi um génio. Era filósofo, arquitecto, engenheiro e biólogo, e desenhou um plano para a civilização. Sou apaixonada pela visão dele assim como pela do Agostinho da Silva. Influenciaram-me muito neste disco. Uma amiga mostrou-me o [movimento] Solar Punk. “O que é isso?” Fui pesquisar e relaciona-se. A ideia é emergir a tecnologia com a natureza - o planeta ser mais sustentável e verde.
A tecnologia é parte da natureza.
Sim, a tecnologia é natureza. Tenho muita pena que a minha geração pense que somos uns parasitas da Terra. Como se nos tivéssemos inventado fora da natureza. Nós somos parte da natureza. Agora, a forma como pensamos é que é muito primitiva. Temos a inteligência mas queremos muito ser uma coisa diferente da natureza e é isso que conduz à extinção. Olhas para os pássaros e para os animais e ninguém paga para viver. Nós é que inventámos este sistema, que pode ser interessante para muita coisa, mas tem de haver um equilíbrio. Sim, somos diferentes dos outros animais mas somos animais. Porque é que estamos tão obcecados em ir à Lua ou a Marte quando não conseguimos comunicar com golfinhos? Se não sabemos falar com os animais da nossa terra como é que vamos falar com extraterrestres? (gargalhada) Ainda estamos a aprender. Havemos de nos extinguir como civilização e haverá outras a formar-se. O ser humano não consegue relacionar-se com o tempo, esquece-se muito depressa do que aconteceu há cem anos.
Essas posiçōes, apesar de apartidárias, não serão políticas?
Pois, talvez. Ainda no outro, partilhei um comentário no Threads depois de o Hugo Correia [produtor de Pastoral e líder do colectivo Fadomorse] ter questionado o não terem sido convidados para as celebraçōes do 25 de abril, que é um tema que eles sempre abordaram. Eles fazem arte de alto calibre para quem gosta de Frank Zappa, jazz e música de fusão. São virtuosos. Ele disse que “há lugar para todos mas o nosso ainda não chegou”. Eu também sinto isso e não sou só eu. Toda a gente que não está em Lisboa sabe o quão difícil e lento é o processo. Tenho resistido a ir para Lisboa não só porque quando lá vou não me transmite muita paz e não me vejo a viver, apesar de adorar a cidade. É só por isso. Vivi no Porto antes do boom turístico e foi incrível. Já em Copenhaga porque era uma capital. Muita informação. As pessoas são muito simpáticas mas depois não dão sequência a relação. No norte e no interior, são como cocos e pêssegos. Demoram a gostar mas quando abrem a porta, és parte da família. Nas capitais, há pouco tempo para as pessoas se aproximarem porque há muita informação. Não é um problema das pessoas, tem a ver com a estratégia local. Sou uma pessoa de profundidade. Gosto de perder tempo a filosofar. Sinto-me mais calma onde nåo há tanto ruído.
O teu olhar sobre a distância é de paz e beleza. Não é de confronto.
Nunca me senti tão criativa como agora, e estou longe de tudo. Vivo na ilha com o aeroporto mais difícil do mundo (gargalhada). “Olha, onde é que me vim meter?”. Saio do quarto e tenho praia a cinco minutos. É o mar, é a montanha. Viver entre estes dois mundos é o mais bonito que já experienciei. Sinto uma calma desacelerada. Não tenho ninguém a quem provar.
A desaceleração exterior trouxe espaço interior?
Acho que sim. E atenção que na residência, um T8, são quatro pessoas a gerir e quatro pessoas a viver. Temos artistas, biológos, artes performativas, já tivemos uma acrobata, e mesmo assim consigo gerir muito bem o meu tempo. Não é como no Porto, que foi uma das cidades de que mais usufruí. Em Copenhaga, vivi três anos mas num estava grávida e no outro veio a pandemia. Acabei por não viver muito a parte social da cidade. No ØPorto, não conseguia acabar o disco. Tive que ir para Copenhaga. Saía de casa e havia um concerto. Vivia mesmo ao lado da Casa da Música. Na Madeira, nada acontece a não ser os da Barreirinha e o teatro (ri-se). Isso fez com que o copo esvaziasse para trabalhar nas minhas próprias coisas.
Que peso teve a maternidade no Pastoral?
Tive uma experiência tão traumática, apesar de já ter feito terapia, que tudo aquilo que não tinha a certeza, agora tenho. Acabaram-se as dúvidas. Vou e o que interessa é fazer. Era mais menina.
O nome dos Fadomorse foi desaparecendo do circuito e, no entanto, já há mais de vinte anos que reformulavam a música popular. Como surge o Hugo Correia?
Quando vivi seis anos em Aveiro, ele também estava lá. Ele é transmontano, como eu, de Mirandela. Na altura, estava a acabar o Navia e ele convidou-me para uma canção dos Fadomorse. Disse-lhe que quando fizesse um álbum de música tradicional, que já estava na minha cabeça, o convidava. Era a pessoal ideal. Tinha o gosto pela música tradicional, e é um compositor, músico e produtor incrível. Quase dez anos, proporcionou-se. Ele produziu o álbum comigo entre a Madeira e Ílhavo, onde ele vive. Eu mandava para ele, e ele mandava para mim. Foi a primeira vez que senti uma simbiose muito natural.
Preocupas-te bastante em explicar aquilo que estás a fazer. No YouTube, os vídeos são acompanhados por textos bastante extensos. É uma tentativa de conciliar a tua visão pessoal vivida com a consciência colectiva a que te referias?
É uma questão interessante. Há um duelo em mim: transmito o que a música é para mim ou calo-me e deixo as pessoas interpretar. Tudo tem um simbolismo só que é inconsciente. Li O Homem e Seus Símbolos, do Carl Jung, e esse livro mudou a minha vida. As escolhas são inconscientemente simbólicas. Isso levou-me a ser franca com a minha arte e, desde então, tinha escrito sobre as minhas motivaçōes. Na Senhora do Almortão, por exemplo, está lá o simbolismo todo. Ainda não escrevi com toda a profundidade mas hei-de o fazer. Estava muito atarefada em acabar o vídeo. Tive duas semanas para o fazer e a pressão foi muito grande. Não foram escolhas racionais mas mais tarde consegui perceber o simbolismo delas. Estas cançōes nasceram por necessidade e, a partir daí, criei a minha análise.
Na Senhora do Almortão, a leitura é bastante evidente. É uma reacção ao machismo daquela tradição.
Sim, é isso mesmo. É uma das mensagens. Está tudo lá. O texto vem depois da emoção. Sou 90% emocional.
A maior atenção recebida pelo Pastoral em relação ao ØPorto deve-se à pandemia ou também a outros motivos como haver cada vez mais mulheres a fazer música, à resignificação das tradiçōes e à atenção aos temas ambientais, dentro e fora da arte?
Acho que sim. Todos os astros se alinharam desta vez. Até a [editora] Cuca Monga foi um acontecimento transcendente porque eu nunca quis editoras. Já tinha recebido algumas propostas mas nunca quis vender os meus direitos. Desta vez, achei que o álbum ganharia com essa ajuda à produção de alguém de Lisboa. Eu nunca estive permanentemente na capital e sempre senti que precisava de representatividade porque é láque as coisas acontecem. No dia seguinte a ter escrito no meu caderno que queria uma editora, liga-me o Luís Ogando da Cuca Monga a perguntar-me se queria editar por eles. Tudo se conjugou e estou muito grata.
Vês o Pastoral como um álbum definitivo ou ainda transitivo?
Olho para as minhas criaçōes sempre como uma transição. Estou sempre numa aprendizagem. Agora que abri a parte mais profunda das tradiçōes - ouvi o Giacometti nos meus phones para aí durante um mês e foi uma lavagem cerebral -, só me apetece pegar em trechos de melodias senhoras a trabalhar no Minho e fazer cançōes. O Pastoral é o início de uma nova era de Emmy Curl no aprofundamento das raízes. Vai ser um período mais consistente porque é isso que me apetece fazer agora. Já tenho ideias só de coros femininos, de instrumentação e produzir por cima. Há pano para mangas para trabalhar sobre o tradicional. Portugal é o país europeu com mais recolha histórica musical. Por causa do Giacometti e por causa do Tiago Pereira n’A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria. É incrível. Só tenho pena que muita gente pegue nos ritmos latinos para transformar o tradicional. Temos ritmos tão ricos no norte. Se ouvires os bombos daqui, da Beira Interior e da Beira Baixa, parecem samba. Nunca foi explorado. Chamo-lhe o “techno transmontano”. Se o celta nasceu aqui, talvez não seja assim tão descabido pensar o mesmo do techno. Dizem que vem de Detroit mas acho que houve uma ponte muito grande para trás. Se dobrares o kick do bombo com o kick electrónico, é techno. Se ouvires Galandum Galandaiana, aquilo é música de dança. Só precisa de um kick electrónico para fazer a festa.
Se ouvires os bombos daqui, da Beira Interior e da Beira Baixa, parecem samba. Nunca foi explorado. Chamo-lhe o “techno transmontano”. Se o celta nasceu aqui, talvez não seja assim tão descabido pensar o mesmo do techno. Dizem que vem de Detroit mas acho que houve uma ponte muito grande para trás. Se dobrares o kick do bombo com o kick electrónico, é techno.
Sentes que se criaram condiçōes para olhar para essas tradiçōes como um património cultural rico, passível de ser trabalhado e ouvido sem complexos de inferioridade?
Sim, mas é global porque a música está muito parecida e saturada. Para contrapor essa estrutura, nasce este movimento agora. A Rosalia, por exemplo, fez isso, apesar de agora se ter tornado igual às outras. O ritmo e a musicalidade do próprio país ser a arma para se destacar. Isto pode desenvolver-se para coisas muito interessantes e é uma mais-valia para os povos cruzarem estilos. O que nós ouvimos até agora é música americana. Agora é que o pessoal está a acordar para o facto de se calhar, haver outra forma de fazer. A nossa terra é sempre única. Por isso é que agora é tão propício.
Revisitando o teu percurso, houve algumas colaboraçōes inesperadas. Por exemplo, teres trabalhado com o Valete (em Samuel Mira, vénia aos vinte anos de carreira de Sam The Kid). Como é que aconteceu?
Foi no MySpace. Ele foi das primeiras pessoas a comentar o meu perfil. Disse qualquer coisa como “gosto muito” ou “parabéns!”. Fiquei bué contente. “O Valete comentou o meu MySpace”. Desde aí, ficámos com a ideia de trabalharmos juntos. Um dia, ele ligou-me a convidar para uma participação. Foi random e lindo. Adorei.
Estiveste quase a ganhar o Festival da Canção em 2018.
Sim, fiquei com uma imagem melhor do festival desde que o Salvador Sobral ganhou. Eu e muita gente. Ele, entrou, participou, ganhou e nós ficámos “ok, é possível cantar coisas com mais profundidade”. No ano seguinte, o Júlio Resende liga-me para colaborar com ele. Fui ter com ele a Lisboa e conversámos sobre o tema. Nunca quis ganhar o Festival porque apesar de ser uma canção bonita - e hoje toco-a à guitarra -, aquela produção não acho que tenha a ver com emmy Curl. Era suposto ter produzido com o Júlio Resende mas não se alinhou. Quando percebi que a canção ia avançar sem a minha produção, abdiquei de ser emmy Curl e fui com o meu nome. O que foi óptimo porque não ganhei mas fiquei em segundo. Isso fez com que muita gente quisesse conhecer o meu trabalho. Aquela exposição ajudou-me muito embora me tenha dado muito trabalho. Foi uma experiência muito bonita. Nunca tinha cantado para tanta gente. Até desafinei no refrão. A final foi uma surpresa porque nunca imaginei que as pessoas conhecessem a música. Nem sequer pedi para votarem em mim. Antes de entrar para o palco, as pessoas estavam a ver o vídeo do Júlio (compositor) a falar sobre mim como intérprete, estava debaixo do ecrã a espreguiçar-me antes de entrar e quando dou uma pirueta, o pessoal do Multiusos de Guimarães bate palmas. Levei uma estalada de realidade porque achava que era só mais uma. Nunca pensei que pudesse ser uma canção que as pessoas estavam a gostar. Nem me lembro de nada ou de quem estava lá. Só de muita confusão. E recordo-me que o David Fonseca veio falar comigo no fim.
(a conversa é simpaticamente interrompida pelo filho Alban. “Sabes que para poder fazer esta digressão tenho que andar com o meu filho porque o meu namorado é o técnico de som (ri-se). Na Madeira, não temos ninguém. É muito difícil tomar conta de uma criança sem os avós”)
Recentemente fizeste o vídeo da Ofereço ao Sol da Evaya. Os dois álbuns saem na mesma altura e comungam de imensas ligaçōes, quase como irmãos de mães diferentes.
Estamos num grupo só de mulheres chamado shesaid.so. Na pandemia, estudei Blender (software 3D) e este ano exercitei o que aprendi. Fiz o Mudança que foi o meu primeiro vídeo em 3D e depois fui ao grupo de Whatsapp dizer que estava a oferecer um vídeo a quem quisesse. Queria praticar e criar portefólio. Recebi algumas propostas e a Evaya foi uma delas. Quando ouvi, gostei muito e achei que tinha a ver com o meu universo. Não ia ficar desfasado das minhas criaçōes. Ofereci-lhe e aos Unsafe Space Garden.