Em 2020, Little Simz traduziu os primeiros meses de isolamento pandémico em Drop 6. O EP rompeu com a escola de rap jazzístico de GREY Area e serviu de prelúdio aos notáveis Sometimes I Might Be Introvert e No Thank You, dois dos melhores álbuns dos anos seguintes.
O sexto volume da série iniciada em 2014 verbalizava com acutilância inata sobre formas sintéticas como o drum’n’bass e o UK Garage. Subculturas com uma relação próxima e paralela à do hip-hop pela exteriorização do ritmo e da poesia da rua. Ouça-se Might bang, might not para perceber.
Drop 7 reinicia o sistema e planta a semente do próximo futuro. Little Simz devolve-nos a garantia de que a pujança e reconhecimento de ambos os discos citados ainda não lhe mataram a fome.
Quinze minutos chegam para reinventar um processo de pesquisa incessante e ininterrupto na campanha de Little Simz desde 2010. O EP é homogéneo na diversidade física. Vive de formas próximas da electrónica de dança mas ultrapassa a pista e bate o pé noutros pisos com os sprints líricos que justificam as comparaçōes com Kendrick Lamar.
Talvez não estivessemos preparados para a ouvir num português indisfarçável no funk favelado da desenfreada Fever. A excursão ao Brasil continua no maracatu atómico de S.O.S., alimentada por ecos tribalistas da diáspora.
Sete cançōes encapsuladas em um quarto de hora tornam o EP de processamento rápido. Mood Swings é rápida e sussurrada com explosão de UK Funk. Torch traz o verbo para o centro do bass enquanto o trap normalizado de Feelin’ It ilude. A funcionalidade do beat é a capa de uma escavação mais funda.
À velocidade de um fósforo, Power é drum’n’bass atacante e o EP termina com uma visita ao livro de estilo de Jersey em Far Away. Cortesia de Jawkob, o produtor residente e exclusivo de Drop 7.
Se, como nos EP anteriores, este servir de laboratório de experiências, o campo grande de Little Simz vai continuar a crescer em largura e riqueza cultural. Precisamos de referências sem medo de guiar as plateias para o desconhecido - algo que se tem tornado incomum pensando num ano seco de água fresca como foi 2023.
Sentir a novidade, como se de uma primeira vez se tratasse, é uma luz de esperança no futuro perante o apagão geral de utopias.
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